Este é o primeiro Natal do G. O meu melhor e maior presente. O primeiro em que a família está mais completa. Não fossem as mudanças e este Natal seria verdadeiro mágico. 
[Nota: não aconselho a fazer uma mudança de casa em plena época natalícia!!]
Como em tudo o resto, quando penso nesse dia, sinto um misto de emoções. Sinto-me tremendamente feliz porque foi a primeira vez que vi e ouvi os meus filhos. A primeira vez em que me senti verdadeiramente mãe. Abençoada. Especial. Mas sinto-me tremendamente triste. Porque ouvi dois corações. O som mais bonito que algum dia ouvirei. Dois corações. Uns meses depois um deixou de bater. Aquele que foi o som mais mágico que ouvi virou silêncio. E isso é a maior dor que se pode ter. Que se pode trazer no peito.
Talvez, um dia, decida escrever sobre tudo o que tenho vivido. Talvez. Talvez, um dia, não doa tanto pensar sobre isso e consiga partilhar com vocês. Não para terem pena mas para terem conhecimento. Antes de tudo isto, não pensei que seria possível viver algo assim. Não sou a única (infelizmente). Portanto, talvez, um dia, consiga falar com quem está desse lado. Talvez, quando um novo capítulo se começar a escrever. Não se rasgam páginas do livro da nossa vida. É impossível. Mas escrevem-se novos capítulos. Encerram-se os anteriores e guardam-se todas as memórias, recordações e sentimentos num baú do sótão do nosso coração. Há histórias que têm de ser escritas. Pelo simples facto de terem que permanecer na eternidade. Muito para além da nossa existência. Talvez, um dia, escreva sobre tudo isso. 
Desde que engravidei que pintei duas ou três vezes as unhas. Não há um consenso quanto à utilização deste tipo de produto e por isso não me sinto segura e tranquila para pintar as unhas regularmente. Aliás, nos vernizes da Risqué diz mesmo proibido a grávidas. 
Isto, porque, quando se engravida o sistema imunitário baixa para que o nosso organismo não reconheça o feto como um ser estranho e consequentemente o ataque. As dores que senti, percebi mais tarde que seriam a chamada nidação. A nidação pode ter ou não sintomas e entre eles estão precisamente a dor e algum sangramento (este não aconteceu).
O início da ecografia foi longo (pelo menos assim me pareceu!). A médica viu e reviu. E depois de alguns minutos só me disse com um sorriso tímido: "São dois!". Naquele momento, o mundo à minha volta parou. As lágrimas correram pela cara convulsivamente, o coração acelerou e respirar tornou-se difícil. Olhei para o monitor e lá estavam os dois seres. Minúsculos. Cada um no seu saquinho. Não parei de chorar. Já quase nem via com tanta lágrima. Ouvi os corações. Batiam rápido. Muito rápido. Foi, sem dúvida, o som mais bonito que já ouvi na minha vida. A médica tentou acalmar-me com um "vai ter que digerir". Eu sei.
Numa sexta-feira de manhã, dia 11 de Outubro, ia eu a conduzir para a dita formação quando na rádio passa "É isso aí" do Seu Jorge com a Ana Carolina. Eu, de imediato, começo a chorar copiosamente. Não conseguia parar. A música entrava em mim com uma força, uma intensidade tal que eu só conseguia chorar (e soluçar!). Já disse que ia a conduzir, certo? Imaginem a cara dos outros condutores quando passavam por mim! No fim da música, recompus-me e disse a mim mesma "Mas o que é que se passa contigo??". Não respondi mas tive um pressentimento de onde vinha toda aquela sensibilidade. No fim da formação cheguei a casa e a primeira coisa que fiz foi mais um teste. Pousei e fui aquecer a comida. Voltei. Positivo! Fiquei estática. Esperava por aquele momento mas quando ele chegou, bateu forte e não tive reacção. Foi estranho. Fiz outro teste mas da Clearblue. Positivo outra vez. É mesmo real. Andei pela casa, arfei e tremi. Acalmei e fui almoçar.